Psiquiatria e Sociedade

Mente, cérebro e gente

Preste atenção: o difícil diagnóstico de déficit atenção e hiperatividade

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Desafio: duvido você conseguir prestar atenção nesse texto até o fim. Sem abrir outras janelas na internet. Sem falar no Messenger. Sem mandar torpedos. Só ler o texto e pensar nele. Aposto que você não conseguirá, mesmo sendo um texto bem curtinho.

E agora? Será que você sofre de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)? Pelo visto você preenche alguns dos critérios diagnósticos: incapacidade de se focar numa única atividade, dificuldade de concentração, atenção dispersa em diversos estímulos… hum, não sei não. Que tal um remedinho?

Esse parece ser o caminho que tem sido tomado por muitas pessoas no Brasil de acordo com uma pesquisa divulgada no 3o Congresso Internacional de TDAH. Os resultados já causam polêmica, mas vale a pena olhá-los com certo cuidado:

Os pesquisadores entrevistaram 5961 sujeitos entre 4 e 18 anos, bem como seus pais e professores, em 87 cidades de 18 estados brasileiros, utilizando instrumentos padronizados para o diagnóstico de TDAH. Descobriram que quase 500 pessoas já haviam recebido esse diagnóstico por um médico, mas apenas 23,7% destas preenchiam critérios rigorosos para serem ditas portadoras de TDAH. E dos que tomavam remédios apenas 27,3% se enquadravam nos mesmo padrões. O nível econômico das famílias interferiu diretamente com esses resultados: a alta renda favorecia o erro diagnóstico e se associava a mais uso de medicamentos. Paradoxalmente, das crianças que deveriam ter sido diagnosticadas de acordo com as regras internacionais, 58,4% nunca tinham sido identificadas.

Fica claro que fazer o diagnóstico de déficit de atenção é fácil, difícil é fazê-lo corretamente. Os autores imaginam – e eu com eles – que existam pressões sociais mais pronunciadas nas classes abastadas para que as crianças sejam tratadas. Mas eu arrisco ainda mais um fator: quando maior o nível social, mais acesso a estímulos dispersivos que simulam um déficit de atenção, como computador, video game, iPad, smartphone, PSP e por aí vai. E se você conseguiu cumprir o desafio de só ler esse texto e mais nada nos últimos minutos, pode atestar como é difícil não ser capturado por esse mar de informações, não é verdade?

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ResearchBlogging.org Marco Arruda, Maria Valeriana Moura-Ribeiro, José Hércules Golfeto, Marcelo E. Bigal, & Guilherme Polanczyk (2011). Are psychostimulants overprescribed in Brazilian school-aged children? A nationwide study 3 rd International Congress of ADHD

Written by Daniel M Barros

10/05/2011 às 10:23 AM

2 Respostas

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  1. Parabéns Dr. Daniel pelo blog, gostei demais. Conheça nossa comunidade virtual acadêmica e gratuita, COMUNIDADE APRENDER CRIANÇA, http://www.aprendercrianca.com.br lá tentamos fazer também uma interface entre Neurociências e Educação.
    Tendo interesse em publicar algum artigo na comunidade me envie, publicaremos no nosso boletim NOTÍCIAS DO CÉREBRO. Abraço. Arruda

    Marco A. Arruda

    31/05/2011 at 4:52 AM

    • Obrigado, Arruda. Se quiser, fique à vontade para utilizar os textos daqui. Um abraço.

      Daniel M Barros

      31/05/2011 at 10:07 AM


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