Psiquiatria e Sociedade

Mente, cérebro e gente

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Carta aberta aos comediantes brasileiros

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Caros comediantes brasileiros,

Analisar o humor é como dissecar um sapo, poucas pessoas se interessam e no final o sapo morre, disse o escritor E.B.White. Tudo bem, mas sem querer ensinar o padre a rezar a missa, acho que a ciência poderia ajudar vocês a evitarem alguns problemas judiciais sem perder – muito – a graça.

(…)

 

AVISO – O blog migrou para o portal do Estadão. Para ler a íntegra desse texto clique AQUI.

ResearchBlogging.org McGraw AP, & Warren C (2010). Benign violations: making immoral behavior funny. Psychological science, 21 (8), 1141-9 PMID: 20587696

Written by Daniel M Barros

08/06/2011 at 10:37 PM

Pare e não compare

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Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
(…)
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
(…)
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
(…)

Para os que não reconheceram, tratam-se de trechos do “Poema em linha reta”, de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa.

Andei conversando sobre isso com pessoas muito perspicazes, e de fato parece que com o advento das redes sociais essa busca por aparentar uma felicidade total, embora antiga, tem sido potencializada.

Alguns estudos muito interessantes apontam para a origem do fenômeno em nossa tendência a querer sempre “o melhor possível” em vez do “bom o suficiente”. Estimulados (e também cobrados) que somos para não nos contentarmos senão com o melhor dos melhores e não aceitar nada abaixo da excelência absoluta, acabamos por sofrer pelos menos duas consequências perversas: em primeiro lugar, estamos constantemente frustrados, já que nem sempre (ou raramente, para ser honesto), conseguimos chegar a tais píncaros em qualquer coisa que seja; e em segundo, como não existem parâmetros objetivos para “o melhor possível” em quase nada, tendemos a nos comparar com os outros para ver se estamos melhor ou pior do que eles. E nessa insana competição para estar melhor podemos distorcer a realidade, incapazes de enxergar e lidar com nossas inevitáveis mazelas.

É por isso que o facebook fala muito sobre as baladas maravilhosas e nada sobre os sábados solitários, mostrando sempre fotos felizes e nunca as agruras da vida. Isso já gerou até um novo termo, “FOMO” (fear of missing out), para traduzir a ansiedade que essa vitrine maquiada gera nos que embarcam na roda vida de comparações sem fim.

Mas existe uma solução: os mesmos estudos mostram que as pessoas que têm mais tendência para buscar “o melhor possível” são mais insatisfeitas e mais competitivas do que as que se contentam com o “bom o suficiente”. Não se trata de ter expectativas medíocres, mas de estabelecer padrões para si – altos ou não – que não dependam dos outros.

Quando descobrimos o que nos satisfaz ficamos felizes em alcançá-lo. E basta.

ResearchBlogging.org Schwartz B, Ward A, Monterosso J, Lyubomirsky S, White K, & Lehman DR (2002). Maximizing versus satisficing: happiness is a matter of choice. Journal of personality and social psychology, 83 (5), 1178-97 PMID: 12416921

Written by Daniel M Barros

01/06/2011 at 7:08 PM

O massacre de Wellington e a Psiquiatria Forense

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[tweetmeme]Após muitas entrevistas, acho que é hora de tentar reunir minhas ideias e impressões sobre o assassinato em massa ocorrido na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro. Televisão, jornal e rádio acabam sempre editando o material ou pautando muito a entrevista e, portanto, se quiser conhecer de fato uma análise mais aprofundada do crime de Wellington Menezes de Oliveira, sugiro que tenha um pouco de paciência e leia o artigo todo.

O que temos de concreto

Ele era muito introspectivo,

Leia a íntegra no Portal Estadão.

Written by Daniel M Barros

09/04/2011 at 10:26 PM

Conversa desagradável

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Acho que alguns leitores podem ficar indignados, mas não consigo deixar de comentar a matéria de capa da Veja da semana passada, Luciano Huck e Angélica mostrando a nova cara do bom-mocismo para um mundo politicamente correto.

Mas o quê nosso blog tem a ver com isso? Tem a ver na medida em que a mídia é uma fonte de modelos mentais para a sociedade, e o modelo apresentado ali é, no mínimo, parcial. É claro que eu torço pela felicidade dos apresentadores (aliás, torço para a felicidade geral das nações), mas pintar a vida como uma comédia romântica, na qual os protagonistas passam por diversos desencontros até finalmente se unir e se tornarem felizes para sempre já se provou uma fórmula prejudicial para a saúde emocional das pessoas.

Para citar apenas um estudo de muitos, numa pesquisa com quase 300 estudantes universitários, encontrou-se uma clara correlação entre a preferência por mídias de conteúdo romântico, como seriados, filmes e revistas, e crenças absolutamente disfuncionais no que se refere a relacionamentos reais, como acreditar que o destino apresentará um parceiro ideal que será imediatamente reconhecido, ou esperar que o parceiro tenha a percepção imediata das necessidades do outro, como se dotado fosse da capacidade de ler sua mente. Nós somos seres sociais, tendemos a nos espelhar no outro, e portanto somos mais sugestionáveis do que gostaríamos. Quando fontes de informação massificam mensagens superficiais e, por que não, mentirosas, acabamos por acreditar naquilo e por viver grandes frustrações.

A matéria da Veja é como os adesivos de carro que viraram moda nos últimos meses: mostram uma família arrumadinha e sorridente, puerilmente retratada como se tudo fossem flores. Claro, ninguém quer colar no seu carro uma cena mostrando a briga com a sogra no almoço de domingo, assim como não seria de se esperar uma reportagem sobre as discussões conjugais de Huck e Angélica. Só quero lembrar que, no dia-a-dia, ser feliz até é possível, mas é mais difícil do que se quer crer e custa um bocado de contrariedades.

ResearchBlogging.org Bjarne M. Holmes (2007). In Search of My “One-and-Only”: Romance-Oriented Media and Beliefs in Romantic Relationship Destiny Electronic Journal of Communication, 7 (3)

Written by Daniel M Barros

08/02/2011 at 11:56 AM

A infelicidade e o Big Brother Brasil

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Está rolando nas redes sociais a campanha “troque o BBB por um livro”: pessoas indicam bons livros que estejam lendo e que achem valer mais a pena do que acompanhar o dia-a-dia dos futuros ex-famosos. Eu não creio que essa campanha convença ninguém a desligar a TV e abrir um livro, mas ainda assim vou dar minha pequena contribuição.

Em 2009 foi publicado um estudo que bisbilhotou as conversas de 79 pessoas durante 4 dias. Um gravador automático registrava os sons ambientes durante 30 segundos a cada 12,5 minutos, gerando mais de 20.000 clips, que mostravam desde silêncio até as conversas reservadas. Os pesquisadores então codificaram os momentos em solidão, conversas superficiais ou conversas significativas. As superficiais apenas tratavam de assuntos banais, sem troca de informações relevantes, enquanto as significativas revelavam algum envolvimento entre os interlocutores. Em dois momentos as pessoas tinham também que preencher questionários de satisfação com a vida e bem estar. Os resultados não deixam margem a dúvida: as pessoas que estavam mais tempo sozinhas são as mais infelizes – os mais satisfeitos passavam 25% menos tempo sozinhos e 70% mais tempo falando.

Mas onde entra o BBB nessa história?

Entra porque os resultados também mostraram que as pessoas mais felizes tinham dois terços a menos de conversas superficiais, engajando-se no dobro de conversas significativas. Falar banalidades, portanto, parece estar associado a menor satisfação com a vida e menos felicidade.

Os pesquisadores interpretaram os resultados pensando nos vínculos sociais que nos unem: papo furado e superficialidade não marcam relacionamentos verdadeiros; só com o envolvimento no mínimo um pouco além da trivialidade é que passamos a conversar sobre assuntos relevantes. E desde muito tempo se sabe que vínculos e amizades profundas são importantes para o bem estar das pessoas.

Assim, trocar o BBB por um livro não vai fazer de ninguém uma pessoa mais feliz. Mas conversar sobre a vinda da família real portuguesa ao Brasil ou sobre os usos da arte da guerra na empresa em vez de comentar as fofocas de terceiros pode ser um começo.

ResearchBlogging.org Mehl, M., Vazire, S., Holleran, S., & Clark, C. (2010). Eavesdropping on Happiness: Well-Being Is Related to Having Less Small Talk and More Substantive Conversations Psychological Science, 21 (4), 539-541 DOI: 10.1177/0956797610362675

Written by Daniel M Barros

25/01/2011 at 10:19 AM

WikiLeaks, mentiras e fofocas

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O quê diferencia informação relevante de fofoca? Como diferenciar segredos legítimos de mentiras torpes? Ultimamente essas perguntas rondam o WikiLeaks.

O site, que coleciona prêmios, conta com colaboradores que vão de repórteres experientes até dissidentes de governos totalitários, promovendo o vazamento de informações sigilosas e trazendo à luz fatos que governos dos mais variados naipes gostariam de manter ocultos: vídeos de um helicóptero americano matando civis no Iraque; relatório sobre a política de extermínio no Quênia; dezenas de milhares de documentos sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão, o manual da prisão de Guantánamo etc. É louvável em sua propagação da transparência e honestidade.

No entanto, seu crescimento e sucesso vem sendo acompanhado de dois riscos: descambar para a fofoca e colocar pessoas e causas em risco real.

A divulgação de telegramas diplomáticos dos Estados Unidos, é – a meu ver – fofoca inútil. Saber que Hillary Clinton perguntou se Cristina Kirchner toma remédios psiquiátricos; que o Rio de Janeiro teme ser alvo terrorista nas Olimpíadas de 2016; ou mesmo que o Itamaraty é antiamericano me parecem intrigas tão comezinhas quando as conversas de pé-de-ouvido de qualquer reality show. Nas relações humanas, segredos e omissões são fundamentais, pois algumas mentiras bobas muitas vezes ajudam a manter os vínculos que a plena sinceridade destruiria.

Mais que isso, contudo, há verdades que, gostemos ou não, vindo à luz são prejudiciais. Esconder a tortura a prisioneiros é sempre ruim, mas não revelar que determinada autoridade está desaparecida, nem sempre. A literatura sobre o tema classifica algumas inverdades como “mentiras azuis” (em alusão à farda de policiais que mentiram para garantir o sucesso de uma ação do governo contra o crime). E o mais interessante é que, desde crianças, desenvolvemos progressivamente a noção de que mentir de forma egoísta é errado, mas de forma altruísta, em prol do grupo, pode ser aceitável. Em um estudo com crianças de 7, 9 e 11 anos que poderiam mentir ou falar a verdade, prejudicando toda sua classe de colegas, psicólogos verificaram 7.2, 16.7 e 29.7% delas optaram por mentir em prol do grupo, respectivamente; de forma paralela, conforme aumenta a idade há menos aceitação para mentia em benefício próprio.

Embora a transparência seja um valor, não é um valor absoluto. O juiz Louis Brandeis estava certo ao dizer que “A luz do sol é o melhor desinfetante”, mas vale lembrar que a mesma luz, em excesso ou no lugar errado, pode causar graves prejuízos.

ResearchBlogging.org Fu, G., Evans, A., Wang, L., & Lee, K. (2008). Lying in the name of the collective good: a developmental study Developmental Science, 11 (4), 495-503 DOI: 10.1111/j.1467-7687.2008.00695.x

Written by Daniel M Barros

06/12/2010 at 4:13 PM

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Você faz o que você vê

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Uns jogam objetos voadores não identificados na cabeça do candidato, outros atiram bexigas d’água na carreata da candidata: a violência surgiu nas ruas nesse segundo turno após o tom agressivo aparecer nas interações entre Serra e Dilma. Seria coincidência? Acho que não.

Um fato que detestamos admitir é que a televisão tem um enorme poder sobre nós e nossos comportamentos. Gostamos de pensar que estamos acima dessa influência, mas os trabalhos do cientista Albert Bandura estão aí para nos desmentir.

Na década de 60 ele ficou famoso com um experimento no qual crianças entre três e seis anos eram apresentadas a uma situação de agressão: eles viam um adulto agredir um boneco “joão-bobo” de forma propositalmente mais intensa do que o esperado para o brinquedo – além de socos, havia chutes, marretadas, seguidos de frases agressivas, como “Soque-o no nariz!” etc. O estímulo foi feito de três maneiras: ao vivo ou por meio de um vídeo, que mostrava ou a mesma agressão ou um adulto vestido de gato, como nos parques de diversão, enquanto um grupo controle não via tais cenas. No segundo momento as crianças eram levadas a uma sala de brinquedos e observava-se se elas teriam comportamentos agressivos e em que medida imitariam o adulto. Não surpreende que as crianças submetidas ao estímulo foram muito mais agressivas do que as no grupo controle. Surpreendeu, contudo, que o estímulo que mais as levou a comportamentos imitativos foi ver o vídeo dos adultos agressivos.

Acho que já comentei aqui, mas vale a pena citar novamente uma declaração do Woody Allen que disse conhecer diversas pessoas frustradas por não terem a vida que viam nos filmes, como se aquele fosse um gabarito com qual medir o sucesso real dos indivíduos. O problema é que nós somos seres necessariamente influenciáveis, e imitamos inconscientemente o comportamento alheio para decidir o que fazer. Somos programados para isso, pois é mais rápido e econômico do que pensar a todo momento em cada decisão individual. Na sociedade atual a televisão potencializa esse efeito, e nela nos espelhamos – em maior ou menor grau, queiramos ou não – para pautar nosso comportamento.

Proponho duas soluções: em primeiro, tendo conhecimento disso, ficarmos mais atentos àquilo que nos influencia. E em segundo, nos inspirarmos em Groucho Marx, que dizia achar a TV muito educativa, já que sempre que alguém ligava o aparelho ia para biblioteca ler um livro.

ResearchBlogging.org Bandura, A., Ross, D., & Ross, S. (1963). Imitation of film-mediated aggressive models. The Journal of Abnormal and Social Psychology, 66 (1), 3-11 DOI: 10.1037/h0048687

Written by Daniel M Barros

26/10/2010 at 6:31 PM

De maçãs e cestos – Tropa de Elite 2 e o Efeito Lúcifer

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Diga qualquer filme nacional que você tenha gostado e eu digo por que Tropa de elite 2 é melhor.
Mas só posso falar depois que você assistir. A única coisa que dá para contar antes é que, após se afastar do BOPE, o capitão Nascimento torna-se Sub-secretário de Segurança do Rio de Janeiro, quando passa a conhecer o motor por trás das engrenagens policiais. Nesse novo cargo ele continua a sua guerra contra os bandidos, mas vê nascer novos inimigos na figura das milícias, enquanto ainda tenta dar conta de sua cada vez mais complicada vida pessoal. Aos esculachos e às torturas o filme acrescenta novas camadas – econômica, social e política – adquirindo uma complexidade muito maior; assim como Nascimento, Tropa 2 amadureceu, enveredou-se pela política e descobriu que o mundo é um lugar muito, muito complicado. O grande vilão a ser combatido, Nascimento descobre, é o “sistema”.

Quem pensa que isso é só um clichê deveria conhecer o famoso Experimento da Prisão de Stanford, sobre o qual já conversamos antes (leia). Voluntários normais, sem desvios de personalidade, tornaram-se verdadeiros carrascos, agindo de forma maldosa e irreconhecível quando colocados como guardas de uma falsa prisão, cuidando de outros voluntários. Os “guardas” sabiam que não se tratavam de bandidos de verdade, mas ainda assim a escalada de violência fez com que o experimento tivesse de ser interrompido.

“O policial não puxa o gatilho sozinho”, diz Nascimento a certa altura do filme. Philip Zimbardo, o pesquisador por trás do experimento, concorda com ele: “Antes de culpar os indivíduos, a coisa certa a fazer é descobrir em que situações eles estavam que poderiam ter provocado esse comportamento maldoso. Porque não assumir que são boas maçãs em um cesto podre, ao invés de maçãs podres em um cesto bom?” ele pergunta sobre os soldados americanos que torturaram prisioneiros em Abu Ghraib. A influência das circunstâncias, do “sistema” enfim, foi chamada por ele de Efeito Lúcifer (título de um de seus livros), tamanho seu poder de levar pessoas boas a praticar maldades.

Tropa de Elite 2 é sábio o suficiente para saber que as maçãs podem sim ser boas ou podres, mas que não adianta encontra-las se não cuidarmos também do cesto. Não é um filme que agradará a tantos como o primeiro, mas é sem dúvida muito mais cinema.

ResearchBlogging.org Shermer M (2007). Bad apples and bad barrels. Lessons in evil from Stanford to Abu Ghraib. Scientific American, 297 (2), 34-6 PMID: 17894169

Written by Daniel M Barros

08/10/2010 at 8:17 PM

A falta que uma oposição faz

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De vez em quado as pessoas dizem que eu sou do contra. Nem tão de vez em quando assim, para falar a verdade, mas de vez em quando eu mesmo concordo com elas (ainda que seja raro eu concordar…). De qualquer maneira, a ciência acaba de descobrir a falta que faz uma boa posição – não que isso seja grande novidade para nós, que acompanhamos um triste filme nesses tempos de eleição.

Estudando a dinâmica de interação entre líderes e liderados, pesquisadores da Flórida conduziram 5 experimentos diferentes, avaliando o perfil dos chefes e seu padrão de comportamento com relação a seus subalternos, identificando duas abordagens principais nos mandatários: a do domínio e a do prestígio. Levando em conta que em qualquer relacionamento desse tipo as pessoas cedem privilégios e direitos em favor de um líder, para que este trabalhe para o bem coletivo, existe uma tensão constante entre o quanto de poder as pessoas abrem mão – querendo fazê-lo sempre na menor quantidade possível – e o quanto de poder o líder ganha – tendendo a querer sempre o máximo possível. Aqueles líderes que utilizam a estratégia do prestígio, por um lado, aproveitam-se de seu status elevado em benefício do grupo todo; os que se voltam para o domínio, contudo, preferem forçar a distância entre o poder que conseguem obter e quanto o povo quer conceder; com isso, também conseguem trabalhar para o bem coletivo, mas são os mais tentados a usurpar o poder em proveito próprio: em situações experimentais nas quais a hierarquia era internamente fragilizada tais líderes passavam a privilegiar o próprio poder em detrimento do interesse geral – omitiam informações relevantes para o grupo, excluíam pessoas competentes e buscavam esvaziar a influência de outras pessoas – que não sua própria – sobre o grupo. Tais efeitos perniciosos não se manifestavam, no entanto, se houvesse um grupo opositor, pois isso ativava características alternativas de liderança.

Soa bastante familiar, pelos menos aos meus ouvidos. Mas pelo andar da carruagem haverá muito tempo para a oposição aprender a se comportar como tal no Brasil.

ResearchBlogging.org Maner, J., & Mead, N. (2010). The essential tension between leadership and power: When leaders sacrifice group goals for the sake of self-interest. Journal of Personality and Social Psychology, 99 (3), 482-497 DOI: 10.1037/a0018559

Written by Daniel M Barros

14/09/2010 at 10:14 AM

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O poder da internet (e dos peitos grandes)

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A essa altura você já deve ter ouvido falar de Larissa Riquelme, a modelo paraguaia que ficou famosa por guardar o celular no decote durante os jogos do Paraguai – as fotos dos seus 90 centímetros de busto, 60 de cintura e 94 de quadril rodaram o mundo virtual. O poder dos seios fartos mais uma vez ficou evidente.

Todo mundo já foi vítima ou vilão do famigerado efeito “desvio do olhar”, que pode ser identificado em homens durante uma conversa com mulheres com decotes generosos: discretamente, no momento em que a mulher tira os olhos dos olhos do seu interlocutor, este automaticamente olha de esgelha para os seios à sua frente; o problema é que diante do poder magnético do decote o homem não consegue voltar os olhos para a posição original em tempo de não ser flagrado pela mulher, que felizmente finge não ter percebido.

Existem diversas teorias para explicar o fenômeno: as mamas grandes e firmes seriam sinais de fertilidade, o que atrairia os machos em busca de descendentes desde os tempos mais antigos; ou então mostrariam que a mulher goza de boa saúde geral, o que também aumentaria a chance de uma prole numerosa e saudável; finalmente há especulações de que seriam um sinal de disponibilidade sexual similar às nádegas, mas que teriam migrado das proximidades dos órgãos genitais para o tórax anterior quando os humanos passaram a andar em pé. Numa revisão da literatura, biólogos mostraram, de qualquer maneira, que independentemente dos padrões de beleza culturamente vigentes, a beleza e alguns atrativos “irresistíveis” surgem em toda a natureza por meio da seleção sexual, e que em qualquer lugar do mundo os padrões do que é belo refletem a busca por parceiros saudáveis: os padrões podem diferir, mas as regras que os moldam são universais, respondendo a pressões seletivas (I).

Um estudo muito mais prosaico comprovou a força hipnótica dos bustos fartos quando avaliou 374 garçonetes, pedindo que elas informassem suas características físicas, auto-percepção com relação a atração física e a média das gorjetas recebidas. Foi encontrada uma relação direta entre se achar atraente e o número do sutiã. Mais do que isso, no entanto, o número do sutiã apresentou uma relação direta também com os ganhos financeiros – quanto maior o busto, maior a gorjeta. É significativa a declaração do pesquisador, segundo quem “é sempre importatante testar o que parece óbvio para a sabedoria popular” (II).

Larissa Riquelme, sem saber, foi pivô de uma revolução, ao conjugar o poder das redes sociais com o poder do decote exuberante: nunca houve tantos olhares desviados ao mesmo tempo.

ResearchBlogging.org
(I) Grammer K, Fink B, Møller AP, & Thornhill R (2003). Darwinian aesthetics: sexual selection and the biology of beauty. Biological reviews of the Cambridge Philosophical Society, 78 (3), 385-407 PMID: 14558590
(II) Lynn, M. (2008). Determinants and Consequences of Female Attractiveness and Sexiness: Realistic Tests with Restaurant Waitresses Archives of Sexual Behavior, 38 (5), 737-745 DOI: 10.1007/s10508-008-9379-0 *-*

Written by Daniel M Barros

05/07/2010 at 3:04 PM